Saúde & Wellness no Ambiente de Trabalho não é o futuro, mas o presente.

Para começar: Por que a flexibilidade de trabalho remoto gerou escritórios vazios em organizações ao redor do mundo?

Bem, a verdade é: enquanto estamos à beira de uma nova era, o cenário do trabalho está passando por uma transformação como nunca antes. A rotina tradicional do escritório está dando lugar a um futuro flexível, impulsionado pela tecnologia que redefine onde, quando e como trabalhamos. Em meio a essas mudanças, um aspecto permanece constante: a importância primordial da saúde, segurança e bem-estar no local de trabalho.

Inúmeras empresas globais estão atualmente a enfrentar as consequências da pandemia da COVID-19, especialmente a questão dos espaços de escritório vagos. Isso ressalta a crescente importância dos gerentes de experiência no local de trabalho.

O Future Forum Pulse entrevistou 10.569 trabalhadores nos EUA, Austrália, França, Alemanha, Japão e Reino Unido entre 28 de julho e 10 de agosto de 2021 e exibe dados relevantes a serem considerados pelos decision-makers de negócios para estratégias no local de trabalho.

Future-Forum-Pulse-Report-October-2021.pdf

Fazer download de PDF • 1.26MB

Imagem: Percentagem de trabalhadores do conhecimento que afirmam estar abertos a procurar um novo emprego no próximo ano, por país (seria 2022). Fonte: Future Forum Pulse

Imagem: Sensação de flexibilidade de horário e seus impactos. Fonte. Future Forum Pulse

A mera presença física no escritório não se traduz necessariamente em maior produtividade; significa desempenho, e que pode ser superficial. Colaboradores podem cumprir as suas responsabilidades profissionais, mas podem executá-las enquanto enfrentam bastante estress e insatisfação. Consequentemente, os resultados gerais podem não ser tão favoráveis quanto o previsto e aí sim, escritórios podem ficar verdadeiramente vazios por perder talentos.

Por que os funcionários querem poder trabalhar em casa?

As forças motrizes são diversas, mas estas são as mais recorrentes motivações, revelando a essência do formato de trabalho remoto.

• Falta de conforto no escritório: Alguns funcionários podem ser mais resistentes a retornar a escritórios que não oferecem conforto, saúde e bem-estar.

• Medo do burnout: Os funcionários podem temer que retornar ao escritório pode causar burnout (inclui microgerenciamento e todo o contexto físico) ou diminuição do equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

• Preocupações com a saúde: Preocupações constantes com a transmissão de vírus e a segurança em escritórios;

• Melhor estilo de vida: O trabalho remoto permitiu que os funcionários se afastassem mais dos centros urbanos para poderem viver/trabalhar em áreas que ofereçam melhor qualidade de vida;

• Preocupações com transporte: Transporte público lotado, falta de opções convenientes de transporte, a casa longe do escritório, o engarrafamento e a falta de modais mais saudáveis - como o estacionamento de bicicletas no prédio comercial - podem ser extremamente influentes para a preferência do home office;

• Produtividade: Muitos funcionários descobriram que podem ser tão produtivos quanto, se não mais, quando trabalham remotamente porque têm mais acesso à saúde, ao bem-estar e a um ambiente funcional que lhes permite gerir melhor o seu tempo e ter motivação;

• Responsabilidades familiares e de cuidados com filhos: Especialmente trabalhadores com filhos conseguem ter mais tempo de qualidade com sua família em casa (ou em qualquer lugar mais próximo que o escritório) atender necessidades.

Como atrair os funcionários de volta - espontaneamente

Com toda essa mudança, surge uma maior ênfase na saúde, segurança e bem-estar holístico (wellness) no local de trabalho. As empresas estão reimaginando seus espaços físicos para que as pessoas se sintam valorizadas, apoiadas, seguras e, em última análise, que tenham sua autonomia preservada.

No entanto, não se trata apenas de medidas tangíveis. O futuro local de trabalho está a evoluir para um ecossistema que promove work-life balance dos seus ocupantes. A saúde dos funcionários não é uma escolha pessoal deles, é um valor fundamental de qualquer empresa. Organizações com visão de futuro estão a investir em programas abrangentes de saúde e wellness que atendam não só à saúde física, mas também ao bem-estar mental e emocional.

O que deve ser considerado antes (pensar em) reformar o local de trabalho

A implementação de estratégias de saúde e wellness precisa partir de uma análise inicial profunda para entender tarefas, necessidades e ambientes de trabalho ideais para elas. Negligenciar uma abordagem user-cetric é perder uma oportunidade crucial para se alcançar sucesso. Etapas obrigatórias que podem - devem - ser realizadas para definir estratégias de saúde e wellness no ambiente de trabalho:

· Identificação

· Quantificação

· Análise - Tomada de decisão

· Design de saúde e bem-estar no local de trabalho

· Avaliação Pós-Ocupação

Vale sempre investir no ambiente atual, no entanto, uma avaliação eficaz e user-centric, com as perguntas certas criadas por especialistas fornece insights valiosos para decisões mais informadas: vale a pena redesenhar o escritório atual? Devemos reduzir o tamanho porque muitas pessoas querem continuar em casa? Devemos nos adaptar a um coworking que atenda melhor às necessidades e tenha uma estrutura melhor?

É bom esclarecer: Reduzir espaço físico não é descer degraus de sucesso.

Imagem: Sede da WeWork. Fonte: WeWork

Às vezes, esse este pode ser um caminho mais interessantes. A verdade é que ainda existe um estigma em relação aos empregadores que adotam espaços de coworking ou reduzem o tamanho do escritório. Esta mudança pode parecer uma "redução de pessoal", implicando em uma perda de status ou influência. No entanto, esta mudança às vezes pode aumentar a eficiência organizacional.

Uma ilustração desta mudança é o caso do ANZ Banking Group, na Austrália. Em 2019 (antes mesmo da pandemia), a ANZ realocou sua força de trabalho de aproximadamente 1.200 funcionários com sede em Melbourne para os espaços de coworking WeWork, apresentando uma abordagem progressiva à adaptação do espaço de trabalho. A infraestrutura era significativamente melhor para seus funcionários.

O ambiente físico faz parte da nossa natureza humana

O ambiente físico nos impacta profundamente devido à nossa relação intrínseca (e genética!) com a natureza. Nossos corpos estão sincronizados com a natureza, regulando funções cruciais como ciclo circadiano, emoções e hormônios. O ambiente físico modula nossa vida desde sempre.

Comprometimento negativo desses ritmos são frequentemente vistos em ambientes urbanos modernos. Passamos 90% da nossa vida em espaços interiores, perdendo oportunidades fundamentais de acesso à luz natural, de integração com a natureza, de mais movimentação do corpo, etc.

Além disso, dedicamos cerca de 1/3 da nossa vida adulta em espaços de trabalho, que podem ser rotulados como "espaços de longa ocupação" o que significa que estes têm influência maior sobre nossa saúde no longo-prazo. Criar ambientes alinhados com as nossas necessidades inatas aumenta o bem-estar e respeita os nossos ritmos biológicos. Em essência, a saúde e o bem-estar no local de trabalho são qualidades duradouras que moldam, inclusive, como vemos as organizações.

Cundall mostra que investir no local de trabalho com o WELL compensa (e rapidamente)

Imagem: Cundall London Heardquarter. Fonte: WELL

O WELL Building Standard é um padrão baseado em evidências que contém parâmetros de design, políticas e programas de saúde e bem-estar para serem aplicados no ambiente construído. A Cundall foi a primeira empresa na Europa a ser certificada pelo WELL, em 2016. O gestor à frente do projeto disse que o foco no bem-estar que o WELL traz parece um pré-requisito no mercado de trabalho atual.

Por ser uma empresa de grande porte no Reino Unido, ela investiu a quantia de € 850.000 (cerca de US$ 1.5 milhão) no projeto. Os materiais de marcenaria custaram 3.000€. Embora pareça um custo altíssimo, eles conseguiram o retorno sobre o investimento em apenas 3 meses. Além disso, verificou-se uma queda de 27% na rotatividade de colaboradores (poupança de € 132.500) e, principalmente, uma redução de 50% no absentismo (poupança de € 97.745) comparado ao ano anterior.

“Diligência e dados impulsionaram a marca Cundall em todo o mundo. Num evento da WELL em Hong Kong, uma multidão com uma lista de espera de 25 pessoas ouviu a Chefe Global de Sustentabilidade da Cundall, Amie Shuttleworth, explicar: 'A Cundall London demonstrou um resultado positivo de ROI da WELL dentro de três meses apenas calculando as suas reduções nas licenças por doença e desgaste sem qualquer contabilização, e todos os outros benefícios'.”

(https://resources.wellcertified.com/articles/cundall-office-one-carter-lane/)

Longe do Efeito Manada, a Austrália está coletando resultados e liderando pelo exemplo

Notavelmente, a Austrália emergiu como líder na certificação de edifícios WELL. O país ocupa a terceira posição mundial em termos de espaços construídos certificados por metro quadrado, atrás apenas dos EUA e da China, e ocupa o quarto lugar no número de projetos. Nomes como Arup, CBRE, Frasers Property Australia, Interface, Mirvac, Lendlease, NextPlace e outros ganharam certificações WELL, posicionando a Austrália na vanguarda deste movimento. No entanto, mesmo não buscando a certificação, empresas na Austrália como Google, Canva, Telstra e REA Group têm de fato aplicado estratégias de saúde e bem-estar no local de trabalho em suas organizações como um aumento desta conscientização e inclusão deste importante pilar em seus planejamentos de ESG.

Por fim...

Imagem: Conceitos do WELL e dados gerais. Fonte: WELL

Podemos antecipar com muita segurança que os líderes que desconsideram as necessidades dos funcionários e negligenciam as medidas de saúde e bem-estar no ambiente de trabalho correm o risco de perda de talentos e acúmulo de despesas elevadas. Por outro lado, os líderes que ouvem opinião dos colaboradores, implementam tais medidas e lideram pelo exemplo criam ambientes produtivos e, sim, magnéticos.

Os escritórios´fisicos estão cada vez mais envolvidos com metas organizacionais de marca e cultura, ao mesmo tempo que endereçam desafios sociais mais amplos, como solidão, isolamento, saúde mental e questões climáticas.

Cuidar das pessoas não é apenas um gesto. Ele efetivamente gera satisfação, produtividade, receitas e lucros de forma sustentável. Saúde e wellness no ambiente de trabalho significa tratar as pessoas como pessoas, não como números. Mas isso, inevitavelmente, tem retorno.